segunda-feira, 28 de maio de 2012

Manuel de Oliveira - O Pintor e a Cidade - 1956


.


Publicado em 02/05/2012 por 
"Sinopse: Documentário sobre a cidade do Porto através das aguarelas do pintor António Cruz. O artista sai do seu atellier e percorre a cidade. As imagens reais alternam com as impressões estéticas que o artista vai registando nas suas aguarelas.


Observações: Estreado em 1956 no São Luíz e no Alvalade, em Lisboa. Teve o aplauso unânime da crítica. Aplauso que se repetiu em Paris e em Veneza e que lhe valeu, em 1957, o primeiro prémio internacional da sua carreira, a Harpa de Ouro do Festival de Cork, na Irlanda. Recebeu, também, o Prémio SNI para a Melhor Fotografia.



"Em 1955 fui à Alemanha. Havia já um curso sobre a côr, que me começou a interessar muitíssimo. Fiz um curso na Agfa, curso intensivo sobre a côr durante um mês. Depois fui a Munique ver as máquinas, e embrenhei-me outra vez. Arranjei uma máquina e comecei pelo Pintor e a Cidade que foi o meu primeiro filme a côr e um dos primeiros filmes portugueses a côr.


Fiz O Pintor contra O Douro. Enquanto O Douro é um filme de montagem, O Pintor é um filme de êxtases.

Eu descobri no Pintor e a Cidade que o tempo é um elemento muito importante. A imagem rápida tem um efeito, mas a imagem quando persiste ganha outra forma.

O Pintor e a Cidade é uma obra fundamental na minha carreira, na mudança da minha reflexão sobre o cinema.
É a primeira vez que eu volto as costas a um cinema de montagem".

Manoel de Oliveira, in entrevista com João Bénard da Costa, 1989



"Produção independente que, por um lado, retoma o espírito pioneiro e vanguardista do Douro, é, em termos narrativos e estilísticos, uma ruptura total com o que ficou para trás.(...) Mais precisamente, o que se trata aqui é de parar e reflectir sobre o cinema e os seus materiais, de decompor imagens (imagens da cidade e imagens de um outro olhar sobre essa cidade), separá-las entre si e dos sons respectivos, e repensar de origem para que serve isso de juntá-los de novo, com que sentido, com que objectivo.(...) ligando isto ao tema - o que se trata é de reflectir transparentemente uma das ideias essenciais de todo o cinema de Oliveira: a ideia de desdobramento, o sucessivo desdobramento de olhares que o acto de filmar (e de ver um filme) representa.


...Aqui, o emprego do som é revelador, na medida em que é o som que conta essas relações, a história dessas relações. (No O Pintor e a Cidade o som é como que a "ficção").(...) É o som que "puxa" essa entrada sucessiva da sua imagem para o real fílmico. É o som que a liga, que a faz cumprir uma função.

...A arte como veículo intermediário, não como ponte "entre o autor e o mundo", mas como lugar de concentração/irradiação de olhares e intenções, como espelho que reflecte em todas as direcções, eis o que nos parece a essência de O Pintor e a Cidade".

José Manuel Costa, in Folhas da Cinemateca Portuguesa, 1988"



in amordeperdicao.pt



Título original: O Pintor e a Cidade

Origem: Portugal
Duração: 27 min.
Local de Estreia: São Luís (Lisboa) - 27 de Novembro 1956
Realização: Manoel de Oliveira
Argumento: Manoel de Oliveira
Dir. Fotografia: Manoel de Oliveira
Montagem: Manoel de Oliveira
Dir. Som:Alfredo Pimentel
Sonoplastia: Heliodoro Pires
Música: Luís Rodrigues, Rebelo Bonito, Ino Sanvini
Canções: Orfeão do Porto; Madrigalistas
Produtor: Manoel de Oliveira
Lab. Imagem: Tóbis Portuguesa
Distribuição: Doperfilme
negativo: 35 mm




O Pintor e a Cidade é um documentário de Manoel de Oliveira, lançado em 1956. O filme funciona como uma simbiose artística entre dois gigantes das artes visuais. Neste filme o realizador Manoel de Oliveira (nome incontornável da sétima arte) apresenta a cidade do Porto contrapondo a sua visão cinematográfica à do pintor António Cruz - referência maior da arte nacional (nas palavras de Abel Salazar: "sem contestação possível o maior aguarelista português dos tempos modernos"). 

Tanto Manoel de Oliveira como António Cruz ilustraram a cidade do Porto numa perspectiva que, em aproximação visual à realidade ou não, se tornou muito característica, assinatura do imagético semiótico da Invicta. 

Nos anos 1950, Manoel de Oliveira tinha conseguido película a cores, vinda do lado Leste da Alemanha, da Agfa(1), e queria experimentar retratar a sua cidade. Na altura António Cruz apresentava uma paleta de cor muito própria do Porto e o realizador propôs-lhe que se juntassem, trabalhando cada um a sua "tela". 

O resultado é um interessante documento de referência, tanto em termos de cor como de estilo, do início do cinema colorido. Pelo seu interesse, em certa medida, como exemplo superior da sétima arte, o filme tem sido muitas vezes reposto nos mais diversos festivais de cinema um pouco por todo o mundo. A banda sonora do filme, é composta de recolhas que ilustram o ambiente e por uma composição de Luís Rodrigues. Curiosidade: Manoel de Oliveira contou recentemente que o final planeado para o filme documental não seria exactamente a pequena animação que hoje podemos ver. 

Durante a filmagem, o pintor um pouco relutante com a ideia prevista, que seria mostrar os seus quadros no que actualmente seria referido como uma espécie de slide-show, propôs dinamizar. A ideia foi bem acolhida pelo realizador. A texto acima exposto resulta de uma breve conversa com Manoel de Oliveira e de uma apreciação pessoal do filme. (1)

A empresa alemã Agfa foi pioneira no uso e nas tecnologias associadas à cor no cinema. Com a Segunda Guerra Mundial, a queda do poderio alemão, e da autoridade organizativa do país, foram contempladas em acordos de paz e de compensações aos aliados, direitos de patente. E todo o mundo, principalmente os EUA fizeram usufruto das tecnologias germânicas no domínio da cor. Ao que consta, em muitos casos, por apropriação indevida. (Wikipedia)

Sem comentários:

Enviar um comentário